Hoje apetece-me fazer doce de abóbora. É que para além de ser utilizada para aveludar a sopa, esta variedade não serve para mais nada a não ser para fazer doce e para… os porcos!
Na Verdade era para os porcos que era cultivada, consorciada com o milho e o feijão nos lameiros mais fundos da região beirã. Quando, no final do Verão, se apanhava o feijão e cortava o milho os campos ficavam salpicados de abóboras bem amarelinhas, umas grandes outras mais pequenas, que depois se guardavam nas eiras e que, ao longo do Inverno, serviam para ir alimentando os porcos, juntando-se às couves e aos nabos que iam sendo apanhados diariamente das hortas. Mais um pouco de farinha de milho, ou farelo que sobrava do peneirar da farinha para o pão, tudo bem cozido numa panela de ferro e tínhamos uma boa refeição, a vianda, que ajudava a engordar o sevado, fonte de alimento anual para a maior parte das famílias beirãs. Estas abóboras tinham a particularidade, havendo terra e água de feição, de adquirirem um tamanho consideravelmente grande o que potenciava o seu rendimento. Por isso era chamada de abóbora porqueira. Outras variedades, a menina, a carneira ou cabaço, e a chila, de tamanho mais pequeno, eram menos apetecíveis mas também apareciam de vez em quando. O cabaço, por exemplo, era muito usado na doçaria assim como a chila, mas o povo beirão, com poucos recursos para comprar açúcar não as popularizou.
A que mais se produzia em abundância era de facto a porqueira. E porque estava sempre à mão, logo no fim do Verão e em todo o Inverno, utilizava-se também para aveludar as sopas quando outros alimentos escasseavam. No século XIX, quando açúcar se tornou mais acessível as populações mais pobres começaram também a transformá-la em doce. E se os mais ricos comiam doce de chila ou de cabaço os mais pobres faziam doce abóbora porqueira. Com o tempo aprenderam a melhorar esta iguaria juntando-lhe frutos secos e a comerem-na acompanhada por uma fatia de requeijão. A combinação perfeita para as gentes serranas.
A receita era simples. Um quilo de abóbora cortada aos cubos, ½ quilo de açúcar e uns paus de canela. Deixava-se ficar de um dia para o outro para fazer calda e, no dia seguinte, punha-se a ferver juntamente com a canela. Cozia, mexendo-se com frequência, até fazer estrada (coloca-se um pouco de doce num prato e faz-se um risco pelo meio, se o risco ou estrada se mantiver o doce tem a consistência necessária para não se estragar). Guardava-se em frascos e era um regalo ao longo de todo o Inverno, ou até acabar pois nunca durava muito tempo.
Eu agora faço de uma forma diferente. Coloco metade do açúcar para a mesma quantidade de abóbora, cerca de 250 gramas, e apenas deixo ferver até atingir uma consistência mais espessa, o suficiente para barrar no pão ou comer à colherada. A pasteurização faço-a depois de fechados os frascos. Mergulho-os numa panela cheia de água e deixo ferver 20 minutos. Retiro e guardo. Aguentam, sem se estragar o doce, durante um ano. Obtém-se assim um doce mais saudável. E venha a fatia de requeijão!
Outras receitas com abóbora Porqueira, aqui:
https://allissonecompanhia.blogspot.com/2021/01/abobora-com-feijao-e-pao-de-milho.html
https://allissonecompanhia.blogspot.com/2016/10/comer-saudavel-crescer-saudavel.html
https://allissonecompanhia.blogspot.com/2021/12/pevides-de-abobora-porqueira.html
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