sábado, 1 de outubro de 2016

DIA INT. DO IDOSO


A Arte de Envelhecer

 

“Sinto as angústias do envelhecimento.

Ainda posso vir da rua para o quarto, mas a memória já não acompanha. A mais curta das cartas causa-me problemas. Os exercícios mentais são cada vez mais restritos. Ando às voltas com as mesmas palavras. Todavia, à parte isto, a cabeça está boa. Tem alguns falhanços, embora em assuntos conhecidos ainda me espante, é de certo modo original, sempre mais próxima da verdade, do real….Não me arrependo de nada…olho com inveja os velhos, vinte anos mais velhos do que eu, que ainda correm, ocupam as tribunas ou as presidências, apesar da senilidade, dos esquecimentos, dos buracos negros num pensamento que permanece brilhante. Sobretudo não ser nem doente nem caquético…..

Lucidez do clínico que lança sobre si mesmo um olhar rigoroso……Envelhecer é cair aos poucos, por patamares, no isolamento. Começa muito tempo antes de se chegar à idade avançada, no fim da lua-de-mel da juventude, com experiências triunfantes do corpo……”

Do livro, A Arte de Envelhecer.


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