A Arte de
Envelhecer
“Sinto as
angústias do envelhecimento.
Ainda posso
vir da rua para o quarto, mas a memória já não acompanha. A mais curta das
cartas causa-me problemas. Os exercícios mentais são cada vez mais restritos.
Ando às voltas com as mesmas palavras. Todavia, à parte isto, a cabeça está
boa. Tem alguns falhanços, embora em assuntos conhecidos ainda me espante, é de
certo modo original, sempre mais próxima da verdade, do real….Não me arrependo
de nada…olho com inveja os velhos, vinte anos mais velhos do que eu, que ainda
correm, ocupam as tribunas ou as presidências, apesar da senilidade, dos
esquecimentos, dos buracos negros num pensamento que permanece brilhante.
Sobretudo não ser nem doente nem caquético…..
Lucidez do
clínico que lança sobre si mesmo um olhar rigoroso……Envelhecer é cair aos
poucos, por patamares, no isolamento. Começa muito tempo antes de se chegar à
idade avançada, no fim da lua-de-mel da juventude, com experiências triunfantes
do corpo……”
Do livro, A
Arte de Envelhecer.
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